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10 de janeiro de 2021

UMA HISTÓRIA COVID-exemplar


 Era uma vez uma senhora viúva que vivia só.

Esperava ansiosamente o Natal para, depois de tantos meses, poder estar com a filha e os netos. Sem correr riscos, claro. A filha disse-lhe que estariam na mesma mesa, além delas, somente os pais do marido e o marido. Na mesa grande da sala de jantar e bem espaçados. Os miúdos (os netos mais o primo que tinha os pais em África) estariam numa outra mesa colocada na salinha ao lado.

Na manhã de 24 de Dezembro telefonou-lhe a mulher-a-dias a comunicar que não podia ir porque se sentia "esquisita". Teria que tratar do bolo sozinha, sem a ajuda e o jeitinho que a Conceição tinha para essas coisas. Para complicar, ela também não se sentia muito bem; levantara-se da cama com dores nas articulações, mas não podia perder a consoada.

Foi uma noite muito agradável. Ninguém falou dessas coisas que andam por aí (o andaço...).

A filha disse-lhe que iam passar o ano a casa da Maria Eduarda - uma casa grande, óptima, com jardim, piscina aquecida e sauna. 

- Lembra-se da Maria Eduarda, mãe?

Não fazia ideia de  quem fosse, mas, para não complicar, disse que sim.

             *

Já há alguns dias, chegou a notícia que estão internados a senhora viúva, o genro e a mãe deste.

             *

Da festa de Ano Novo nada consta. Era muita gente...

             *

Chegou agora a notícia que a senhora viúva faleceu.      

1 comentário:

  1. Li com atenção e confesso que ando cheio de medo visto que, nos últimos 15 dias, andei a gozar as amplas liberdades que o Senhor Primeiro nos concedeu.

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