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30 de janeiro de 2011

UMBIGADA II

AI DE QUEM TENHA UM UMBIGO MAIS BRILHANTE QUE O MEU!!!

(ou que eu imagine que possa brilhar mais...)


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+++ Aqui termina o "CICLO DO UMBIGO" (Ufff !!!) +++

UMBIGADA I

AI DE QUEM FAÇA SOMBRA AO MEU UMBIGO!!!

(ou que eu imagine que pode vir fazer...)

29 de janeiro de 2011

POEMA À VOLTA DO UMBIGO

Eu, me, mim, migo
falo com os meus botões
centrado no meu umbigo
não falo disto e daquilo
dos problemas do mundo
falo somente de mim
das minhas recordações
pois só estou tranquilo
a pensar assim comigo
pois sou tema bem profundo.

É por isso que vos digo
não falarem de mim
é coisa que me aterra
e digo, também, em segredo
(mesmo não havendo guerra)
tenho medo:
- Eu (e o meu umbigo)
estou em perigo!

PHRASES MVRAES X

O MEU UMBIGO É O CENTRO DO UNIVERSO.

28 de janeiro de 2011

CITAÇÃO III

(Para J.B.Ws.)




"Quando os pássaros calçarem tamancos
E pelo ar voarem búfalos,
As rosas e os lírios derem bróculos,
E as rãs tocarem flauta,
O Dia de Finados passar sem lamentos,
Escura for a neve e brancas as trufas,
E os ricos colherem chicória,
Só então te esquecerei."


Rui Manuel Amaral
"Doutor Avalanche"

24 de janeiro de 2011

ELEIÇÕES

PORTUGAL tem, pela primeira vez, uma PRESIDENTA - a D. Abstenção.

HIPÉRBOLE

Ao "enésimo" dia o Algebrista criou os novos valores numéricos. Então disse:

- Crescei, somai-vos e multiplicai-vos. Ai de vós, se vos subtrairdes ou dividirdes!!!

Foi assim que conseguiu endireitar as contas e evitar o défice nas Galáxias.

23 de janeiro de 2011

FAZENDO VOTOS

Eu voto
Tu votas
Ele botou(-se)
Nós fazemos votos
Vós vota...(ais!)
Eles vo(l)tam.

.......

(O futuro é daqueles em quem deus botar).

22 de janeiro de 2011

A ALMA PENADA

A alma penada cumpre penas (apenas) por causa dos actos que um ser físico, material, palpável, praticou em vida. Ora, isso não parece correcto, pois que a pena sofrida por esse ser físico (homem, mulher...) foi somente regressar à natureza de onde viera, habitualmente através do contacto continuado com um subsolo de dois a três metros de profundidade.

Assim, a alma penada, sem culpas próprias, divaga sem rumo nem sentido, sem dia, sem noite (ou é sempre noite!), numa vida (?) sem vida - anos, séculos, milénios - sem noção de tempo e sem noção de espaço. Cansada, cansada de si, cansada de tudo, cansada do mundo (dos mundos?), cansada das penas.
Tem forma (?) e rosto quase humanos, com contornos imprecisos, desmaiados, com laivos de cinzento, leitosos.

Quando, num acaso, por razões que não entende, se cruza com um ser físico vivente (homem, cão, gato e, até, outros animais), assalta-a um desejo imenso de comunicar com ele por gestos ou palavras. Palavras que não consegue emitir em sons normais , como desejaria. São sempre roncos ou grunhidos. Os seres físicos fogem, assustadíssimos, soltando berros de terror e horror. Então, a alma penada, além da frustração que sente, é como que impulsionada por energias fortíssimas, que vêm não sabe de onde, entra num movimento rapidíssimo de rotação e de translação em volta do Nada e regressa, novamente, ao Longe, ao principo de Tudo.

O cansaço que vem acumulando multiplica-se por Infinito, pois, como é sabido, a alma penada nunca se sustem, encosta, senta ou deita. Paira sempre, flutua lentamente, em estado etéreo, impreciso, sem destino nem fim. Curvada ao peso dos tempos e das penas. Eternamente.
É-lhe impossível comunicar, procurar o calor de um ser vivo ou mesmo o frio de outra alma penada. Cumpre penas de solidão e errância. Cumpre essas penas, mas não cumprirá, talvez, só essas penas. É matéria não tratada entre nós, que não tem causado o devido interesse e que conviria ser investigada em teses de doutoramento sobre a temática "post-mortem".

Não há relatos sobre avistamento de almas penadas durante o dia (dos seres viventes, claro). Antigamente, antes da existência de iluminação eléctrica, da existência da televisão, da vida nocturna, eram vulgares os relatos sobre o avistamento de almas penadas (por vezes com luminosidade própria, embora difusa) sobre o momento de passagem de um dia para o outro dia, ou seja, sobre a meia-noite. De uma penada, a alma penada surgia na visão alumbrada e conturbada do vidente e, de outra penada, deixava de ser visível. Estes avistamentos causaram, também, fortes turbações sociais e eram relatadas, contadas e recontadas nas povoações em redor, tendo chegado até aos nossos tempos.

Podemos pensar que as almas penadas não gostarão de se aproximar do bulício social nocturno ou do excesso de luminosidade, mas, mesmo nas pequenas aldeias e nos campos, há muito tempo não são referidos avistamentos.
Assim, podemos concluir que:
a) Ou melhorou muito o comportamento dos humanos durante o percurso das suas vidas, votando, assim, as suas almas ao descanso eterno.
b) Ou a alma penada é, também, uma espécie em vias de extinção.

Tanto uma hipótese como a outra deveriam ser ponderadas para efeitos de investigação.

20 de janeiro de 2011

CITAÇÃO II

"CABARÉ


V

(À infalível prostituta, a um canto.)

Se eu quisesse, tornava-te humana.
Fazia-te chorar
as lágrimas que trago em mim.

E beijava-te na boca
a menina que ainda existe
no fundo dos teus olhos.

Mas não quero.

Prefiro ver no teu corpo
o desenho da minha indiferença.
E sentir-te na pele
tudo o que há de vil na minh'alma
- e já não cabe em mim."

José Gomes Ferreira
"Poesia I"

18 de janeiro de 2011

PROSAICO

Falas de autosuficiência
(e aí começa a angústia
de o homem não ser deus),
falas, mas tens a aparência
do cansaço de um rio
correndo com indolência.

És a voz da autosuficiência
hora a hora vivida
com raiva, medo... calma
como uma deusa discorrendo
sobre... o aumento do custo de vida
ou sobre a imortalidade da alma.

16 de janeiro de 2011

CITAÇÃO I

"Os humoristas são meninos que, atravessando os quartos escuros, cantam para se darem coragem."

Pitigrilli
"A decadência do paradoxo"

15 de janeiro de 2011

APARECIDA

À noite eu adorava frequentar a zona das chegadas nos aeroportos das cidades onde vivi. Tomava uma atitude expectante - de pé, braços cruzados e, por vezes, roendo as unhas. Ou sentado, palmas das mãos juntas e apertadas entre os joelhos, olhar fixo nas portas de saída dos passageiros, por vezes desviado para olhar o "placard" das chegadas. Ou passeando de um lado para outro, de mãos nos bolsos. Esperando a chegada de... ninguém.

Observava, também, as pessoas que esperavam, os seus tiques, o nervosismo, a ansiedade. Por vezes tristeza, olheiras fundas, barba por fazer, cabelo pouco cuidado. Alguém que era esperado talvez para um funeral. Os que chegavam vinham sós, aos casais, em grupos, com amigos, familiares ou em numerosos grupos de afinidade desportiva. Havia os que chegavam furtivos, que corriam apressados, zuiguezagueando entre pessoas e malas, a caminho das portas da rua, das praças de táxi. Outros iam saindo assim como em camadas, mais ou menos em concordância com os países de origem, tendo em conta os horários das chegadas.

Havia quem chegasse caminhando como se pisasse uma "passerelle", julgando-se observada e admirada na sua beleza, elegância, exuberânca ou excentricidade, provinda de outros mundos ou de outra galáxia.
Havia tímidos e introvertidos, medrosos. E aqueles que exibiam uma profusão de bagagem completamente desorganizada, que ameaçava desfazer-se a qualquer momento.
Havia beijos fugidios que escondiam e adiavam paixões contidas, que, algum tempo, mais tarde, explodiriam na intimidade ansiada. Outras vezes havia beijos que rebentavam em sofreguidão de corpos amachucados um contra o outro, porque... não havia ali mais ninguém - sucção de lábios, faces e pescoços, assim como quem quem quer sugar o outro para as suas entranhas.
Choros também. Transbordando em lágrimas de alegria ou de dor, afogando as ausências.
Vinham, por vezes, grupos de orientais, muito ordeiros, disciplinados, curiosos de tudo, olhando continuamente em redor. Contidos, ciciado aos ouvidos uns dos outros, olhando as decorações, os tectos, as lojas - as excentricidades ocidentais...
Também grupos de negros, que explodiam em abraços e palmadas de mão na mão, berrando frases em línguas africanas de sons abertos, enquanto tentavam equilibrar crianças, malões e grandes sacos em cima dos carros de bagagem.
Crianças, muitas criaças. Umas adormecidas, outras em correrias, gritos e gargalhadas. Outras contidas, chorosas, tristes, estranhas frente às faces que as beijavam sofregamente - faces que nunca tinham visto.

Tudo eu via numa colheita de vida e diversidade. E fazendo de conta que esperava, esperava, esperava a chegada de... ninguém.

Passavam rios de gente. Passavam, por vezes, rostos familiares. Talvez do tempo da adolescência ou dos vinte anos em... qualquer lugar. Rostos agora mais vincados pelo tempo e pelas vicissitudes da vida. Os nossos olhares cruzavam-se, interrogativos e nada mais.
Passavam, também, figuras públicas, actores, políticos, que, habitualmente, olhavam por cima das cabeças dos outros, evitando olhares e procurando o motorista.
Se surgia, ainda longe, um rosto dos meus conhecimentos, evitava o encontro, escondia-me atrás dos óculos escuros e aproveitava para me afastar e procurar outro palco próximo - outro teatro da vida que, afinal, repetia mais ou menos as mesmas cenas, embora com outros actores.

E continuava a esperar... ninguém.

Voltava para casa com os olhos e ouvidos cheios dos sentimentos, cenas, expressões faciais, palavras, gritos. Só tarde conseguia adormecer. Depois sonhava com tudo aquilo, que ia desfilando, fazendo misturas das situações observadas, assim como quem monta e remonta um filme.

A área das partidas nunca me seduziu. Talvez porque tudo é muito monótono, com filas imensas e, por vezes, protestos e discussões.

Comecei a pensar que as visitas aos aeroportos, na área das chegadas, devia ter uma explicação qualquer. Cheguei a pensar consultar um psiquiatra.

Foi numa dessas visitas (a última) que uma mulher, ainda jovem, correu para mim, tomou-me pelas mãos e, olhando-me nos olhos, exclamou:
- Oh meu querido!
Agarrou a minha cabeça com ambas as mãos e beijou-me ternamente na boca. Depois agarrou com a mão esquerda o meu braço direito e perguntou:
- Vamos?
Estranhei não trazer qualquer peça de bagagem. (- É puta, pensei). Mas aquela cara não me era estranha. Então, ela disse:
- Desculpa. Não me lembro do teu nome.
(- É puta - conclui). E perguntei:
- De onde veio você?
- De lado nenhum. Estava à tua espera.

Fomos para minha casa. Passei a chamar-lhe Aparecida.
Foi há mais de dois anos e ainda está cá em casa.

Nunca mais frequentei as chegadas dos aeroportos.
Estou a pensar, muito seriamente, passar à zona das partidas.

11 de janeiro de 2011

LENGA-LEGA ou ...CEGARREGA

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Era uma velha
que tinha um candidato
e debaixo da cama o tinha
e o candidato falava
e a velha dizia:
- Maldigo o teu falar
maldigo o teu bulir
que não me deixa dormir
nem tão pouco descançar.
Era uma velha
que tinha um candidato (...)























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9 de janeiro de 2011

OS SEUS SAPATOS

(Publicidade)


O quê?! É você que aperta os seus próprios sapatos? Você desce assim tão baixo?
Explique lá porque é que, um homem da sua condição e nascimento, se dobra assim para uma coisa tão mesquinha, tão baixa?
A espinha de um homem deve manter-se sempre em posição erecta! É uma questão de dignidade, de respeito por si mesmo.
O que pensarão ou dirão os seus amigos e vizinhos, os seus próximos, ao observá-lo em acto tão pouco dignificante?
Colocar-se, assim, ao serviço de uns objectos que estão ao nível do chão, que ficam tão próximos ou (sabe-se lá!) se envolvem com o que de mais baixo existe à face da terra - os dejectos! Dejectos de cão, de cavalo, de vaca, de burro... de burro, senhor, de burro! A alimária mais estúpida à face da terra!
Levante-se, homem, levante-se! Abandone essa postura tão baixa, tão degradante! Tenha dignidade! Tenha respeito por si mesmo!
Além disso pode estar alguém a colher imagens desse acto sub-humano, talvez através de máquina de filmar digital. Ficarão fixadas para a posterioridade imagens em movimento de um homem da sua condição a dobrar a coluna, com ar servil, ao nível do chão, colocando-se ao serviço de uns sapatos, objectos que convivem com dejectos!

Ora, meu caro senhor, Vossa Excelência ultrapassará toda essa baixeza se comprar uns sapatos topo de gama da nossa linha "EASYUSTAND", suaves, maleáveis, que são a continuidade e complemento dos seus pés. São dotados de duas peças elásticas, no lado direito e no lado esquerdo de cada sapato. SEM ATACADORES, COMO É ÓBVIO!

Assim poderá Vossa Excelência calçar os seus sapatos, mantendo sempre uma posição erecta, própria da condição de homem superior, olhando os sapatos bem de cima. NÃO SE COLOCANDO AO SERVIÇO DOS MESMOS.

6 de janeiro de 2011

ISCO

Eram quase três horas da madrugada quando o Afonso entrou em casa já um pouco turvado pelo álcool e pelo sono. A manobra para parquear o carro no espaço exíguo da garagem tinha sido muito difícil.

Entrou em casa. Fechou a porta e encostou-se na parede da entrada, com os braços pendentes e a cabeça baixa. Sentia-se cansado, muito cansado, muito cansado.
"- Tenho que beber menos e dormir mais. E fazer algum exercício. Pelo menos nos fins-de-semana."

Sair só nas noites de sextas-feiras e sábados era uma seca - muita gente e demasiados cretinos por metro quadrado.

Encaminhou-se para a casa-de-banho. Olhou-se ao espelho.
Com dois dedos esticou as rugas das olheiras. Com a mão direita puxou para trás os cabelos da testa - o cabelo era cada vez menos. "- Estou a ficar velho."
Fechou os olhos e abriu-os logo a seguir. Parecia que aquela sua cara lhe era estranha. Não era ele. Era um semi-outro. Passou uma mão pela face. A barba estava já crescida. Continuou a observar-se ao espelho com uma expressão passiva, turvada, enjoada.
Abriu a boca e observou os dentes. Puxou da escova de dentes, colocou-lhe um pouco de pasta.
Quando ia começar a escovar os dentes ouviu umas gargalhadas agudas, minúsculas, irritantes. Voltou-se e viu um diabo pequenino, do tamanho de um rato, sentado na borda da banheira, que ria ria, ria, olhando-o. Reparou nos chifres minúsculos e nos pés de cabra. Irritado, atirou-lhe com a pasta de dentes, mas não conseguiu atingi-lo.
O diabinho escorregou pela banheira e fugiu pelo buraco de escoamento de água. O Afonso agarrou no tampão e tapou o buraco com violência.
Começava a escovar os dentes, quando outra gargalhada o fez voltar a olhar para a banheira. O diabinho, com o tampão pendurado de um chifre, fez uma vénia e, sempre a rir, voltou a desaparecer pelo buraco.

O Afonso ficou estático a olhar a banheira, com a escova de dentes na mão.
Retomou a lavagem e pensou:
" - Vou ter que comprar uma ratoeira e ver se consigo arranjar um pedaço de alma como isco para ver se o apanho."

2 de janeiro de 2011

ABANDONO

Na rua, no chão,
à porta da casa onde foi senhor
está um pinheiro de Natal, anão.
Restam-lhe uns flocos de algodão
(hipocrisia de neve)
e muita dor.


Foram-se as luzes, os brinquedos,
os fios prateados e dourados.
Conheceu intimidade, enredos
de fingimento, adulação, calor.


Ninguém o vai repor em casa
nem recolocar no seu pinhal,
porque... já passou o Natal.