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30 de novembro de 2010

LUAS (em noite de insónias)

III - LUA-eclipse

Lua intrometida, ciumenta do Sol, fazedora de noites falsas.
Obscurantista, sub-reptícia, feiticeira perigosa. Mas previsível para quem te estuda e te conhece as manhas.
Lua, toma consciência da tua verdadeira condição - não és mais que luz alheia!

29 de novembro de 2010

LUAS (em noites de insónias)

II - LUA-cheia

- Estamos em posição de quarto-minguante. E agora? Já não há muito mais tempo.
- Não. Haverá mais luas-cheias. Haverá sempre mais luas-cheias.
- Pois, mas nós estamos já em quarto-minguante.
- Não. As luas-cheias serão sempre luas-cheias.
- Não há tempo, não há muito mais tempo para muitas mais luas-cheias. E é pena.
- A luas-cheias não acabarão.
- Sim. Que saudades vamos ter das luas-cheias a haver.

28 de novembro de 2010

LUAS ( em noites de insónia)

I - LUA-só

Lua ânsia, lua pressentimento. Lua do piar de coruja em noite densa.
Lua leve, asséptica, lua de leite, vaga, insinuante, difusa.
Lua nua, aluada.
Lua de marés. Lua das marés.
Lua do passado (sem luzes artificiais), lua-ela-só, rainha das estrelas e de outras pequenas luzes no fundo do céu escuro.
Lua hóstia. Lua queijo.
Lua pura. Lua lua.
Ou meia-lua que nasce ou meia-lua que morre e volta a nascer. E volta a morrer. E volta, de novo, a nascer devagar muito devagar.
Lua cio, prenhe e infértil. Asséptica, úbere, deleitosa, nocturna companheira.
Lua quase sangue em noites de Agosto.
Lua de lobisomens, de uivos , de angústias, de insónias.
LUA-LUA.

QUESTÕES (IN)OPORTUNAS II

Ao homem (ou mulher) que nos tirar da crise devemos erigir uma estátua crise...lefantina ?

25 de novembro de 2010

EM DEFESA E EXPLICAÇÃO DO PSEUDÓNIMO

"A poesia não é mais que um jogo de palavras" - dizem alguns.
Simples jogo de palavras? Sempre?
Será jogo de palavras, mas, também, é via de expressão de sentimentos, pensamentos, imaginação, ilusões. É, também, fingimento, jogo de faz-de-conta.
Mas, sendo dor mesmo sentida ou, até, fingindo sê-lo, essa dor, colocada no papel, passa a doer menos a quem a transmite. Quando lida por outrem em público e na presença do escrevente, provoca neste (quando sentida) a sensação de ficar nu em espaço público, despido da carapaça que o defende das intrusões no seu passado bem presente, apesar de ser, por vezes, já distante.
Assim, é aconselhável o uso de uma outra carapaça chamada PSEUDÓNIMO ou de um ortónimo que torne a intrusão mais translúcida.

(ADVERTÊNCIA: Nem esta "defesa" nem a "explicação" são aplicáveis nos casos de utilização do pseudónimo como acto de puro... "charme").

21 de novembro de 2010

NATO

Eu NATO
Tu NATAS
Ele (des)NATA
Nós NATAMOS
Vós (des)NATAIS
Eles HAVE FLOWN BACK HOME

19 de novembro de 2010

RETRATO

Instalados na vida
estão um homem e a sua barriga
ele tem o estômago ainda vivo
mas as ideias já se finaram
tem um chefe de quem tem medo
um carro de modelo antigo
um filho que lhe rouba o sono
uma mulher chamada Maria
e tem esperança em Deus
que, depois de morrer,
há-de voltar um dia.

16 de novembro de 2010

O SEXO COMO BEM DE CONSUMO

O sexo como bem de consumo.
como bem de consumo.
bem de consumo.
de consumo
de consumo
de consumo.
consumo.
sumo.
mo.
o.
.

11 de novembro de 2010

QUESTÕES (IN)OPORTUNAS I

Foi o livro "Leite derramado" que recebeu o "Prémio Portugal Telecom" ou foi a Portugal Telecom que recebeu o prémio Chico Buarque ?

5 de novembro de 2010

O riacho "virou" RIO

Ao principio as terras alevantavam-se e afundavam-se e voltavam a alevantar-se. Depois tornavam a afundar-se...
As águas das chuvas, o degelo, os aluviões, as neves, os glaciares, corriam, paravam, rodopiavam com o remexer das terras. Retomavam o seu caminho ou continuavam arrastadas nas convulsões.
Surgiram pequenas nascentes nas terras altas.
Um riacho nasceu assim. Teve a oportunidade de, em primeiro lugar, correr pelo sulco, pelo vale ou pelo desfiladeiro mais profundo e adiante e mais adiante e no futuro começou a raceber em si outro fios de água, à sua direita e à sua esquerda, que provinham de sulcos menores.
Foi pura contingência do sobe e desce da crosta terrestre que fez o riacho nascer e tornar-se Rio. Nascendo e crescendo como consequência da Gravidade.
Os outros fios de água não conseguiram passar de riachos, ribeiros, ribeiras, ribeirinhos. Todos passaram a engordar o Grande Rio, que, antes de todos eles, teve a oportunidade de correr pelo tal sulco, vale, desfiladeiro mais profundo, caminhando para o Mar ou... para outro Rio Maior (cuja oportunidade foi maior ainda).

Até para ser Rio é/foi necessária sorte !

(Nota: No caso dos Rios a sorte não resultou de qualquer esforço próprio nem daa águas que os compõem).