Atirou parte do passado para o esgoto. Papéis e mais papéis, notas, escritos, recordações.
Estão, agora, deslizando, em pedaços, na companhia de águas de lavagens, excrementos, urinas, desperdícios e tudo o mais que é dejecto humano e não humano.
São passados-passados, em movimento descendente. Correm entre jorros de líquidos vários, esgoto abaixo, para um esgoto maior, cruzando-se, talvez, com outros passados, que (talvez) venham a reconhecer, seguindo agora uma via comum.
Certo é que, descendo, descendo, descendo sempre , num movimento de sólidos em arrastamento líquido, descerão ao rio e, depois, ao mar e, depois, ao fundo do mar e a outro mar maior, se ele houver.
Serão readmitidos na natureza, pois são bio-degradáveis. As recordações, meditações, sonhos, experiências, pesadelos, ódios, amores - todos se degradarão no espaço do esquecimento.
Convivem já com a ausência de força para mudar as coisas, mudar o que quer que seja.
Muitos outros passados terão ido, assim, pelo esgoto (no todo ou em parte) e muitos outros irão no futuro (que será, também, passado) .
Todos esses passados, agora deslizando, não são totalmente iguais aos que já se esgotaram, assim como os passados-futuros também o não serão.
Sem comentários:
Enviar um comentário