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10 de outubro de 2010

A ÚLTIMA VIAGEM DO GUERREIRO

No meio da confusão - tiroteio, gritos, bazucadas, roquetadas - ouviu ao pé de si um grande estouro. Depois foi o silêncio.
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Agora navegava num rio escuro, fundo e espesso. A canoa avançava a impulsos do remador. O remo à ré.
A água sempre, sempre escura. Céu não havia. Uma luz ténue a afastar-se. Longe.
A canoa penetrava no escuro, aos solavancos. Ele, deitado, adivinhava o vulto do remador, o oscilar das vestes, o capuz que lhe cobria o rosto, os braços que repetiam o gesto.
Havia um grito agudo, angustiante. Não sabia se lhe estava dentro da cabeça ou se vinha de longe.
Por entre o grito ouvia vozes graves, profundas. Ora próximas, ora distantes. Talvez, também, murmúrios de quem reza.
Assim ficou. A canoa suspensa sobre a água. Vozes. E o grito. Vozes, vozes. Perto, perto. Durante muito tempo.
Sentiu que abria os olhos. Por entre um manto vermelho, para além tudo era branco.
- Porquê? Porquê? - perguntou-se.
Sentia uma grande angústia. Fechou os olhos.
A cabeça batia com força. E o grito aumentava, aumentava. Ouviu berrar. Alguém chamava. O remador empurrava-lhe, agora, o peito ao ritmo de quem rema.
Tentou gritar. Não conseguiu. O grito ficou-lhe encalhado na garganta.
Tudo foi ficando escuro lentamente, lentamente...

NUNCA MAIS.

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