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25 de dezembro de 2010

NUMA OCASIÃO...

Assim dizia o Tio Zé: - Numa ocasião...
Soava como se fosse: - Era uma vez...
Mas o relato, a história que se seguia não era produto de imaginação, qualquer coisa ficcionada. Pelo contrário, tratava-se de acontecimentos verificados durante a sua vida. Tivera a oportunidade de os viver (para o bem ou para o mal) ou observara-os nas vidas de outros que lhe estavam próximos, física ou afectivamente.

- Numa ocasião, estava eu em Setúbal...
- Numa ocasião, o meu padrinho...

Excitava-se ou comovia-se com os relatos da sua própria juventude e, principalmente, quando envolviam recordações do padrinho.

Depois da morte do filho, que dantes era alvo de muitas recordações ("Numa ocasião o meu filho..."), deixou de contar situações engraçadas, absurdas, mesmo conflituosas, que envolviam o próprio filho.

Assim aconteceu também com a propria esposa. Em vida dela, as "ocasiões" recordadas eram contadas depois de uma breve introdução, cortada de gargalhadas, chamando-a para perto de si e dos interlocutores, para que ela confirmasse a veracidade dos factos que narrava e que os tinham envolvido a ambos.
Com a morte dela também estes acabaram.

As narrações passaram a acontecer sem grande vivacidade e, quase sempre, tristes ou trágicas. Passou a viver fixado na neta e nos bisnetos, lembrando um pouco os vários sobrinhos.

Acontece que "Numa ocasião..." o Tio Zé faleceu. Foi no dia 1 de Dezembro.
Tinha 96 anos.

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Algeruz (arredores de Setúbal), 25 de Dezembro de 2010

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