Ele seguia sentado, ocupando um lugar do Metro, com as costas no sentido do movimento. Olhar vago, pensando em tudo e em nada.
Entrou uma jovem e sentou-se no único lugar vago, mesmo à sua frente. Fixou-a. Tentou ser discreto, mas não conseguiu. Apreciou-lhe as orelhas, os lábios, o traço do nariz, mas, principalmente, o pescoço.
O cabelo puxado para a nuca permitia ver o desenho do pescoço desde a parte posterior das orelhas, seguindo rosado, fino, firme, enxuto, alargando-se suavemente quando alcançava os ombros.
Quando desviou o olhar pareceu-lhe que ela o observou, interrogativa. Fixou-a de novo. Ela, de cabeça bem levantada, pescoço (sempre o pescoço!) nervoso e firme, olhava no sentido da janela. Pareceu-lhe que o observava pelo reflexo do vidro da janela.
Num repente o comboio travou violentamente e ela foi projectada na direcção dele, tentando amparar-se nas madeiras da janela. Ele soergueu-se e ela caiu-lhe nos braços, com as mãos contra o seu peito. Já em pé, continuou a abraça-la e a beijar-lhe suavemente o pescoço.
O comboio retomou a marcha lentamente, atingindo a velocidade habitual, mas eles continuaram em pé, abraçados, até à estação seguinte.
Sairam de mão dada.
O amor pode acontecer na primeira travagem.
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