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28 de setembro de 2010

COMUNIC@ÇÃO II

Não há ninguém aí
todos partiram para dentro de si
partiu-se o cordão
ou a ligação
que permite sermos ouvidos do outro lado.

A canseira, o cansaço
a fadiga
falta de dinheiro
ou o cagaço
uma dor mal sentida
o medo ou o fado
o susto do amanhã
ou a noite mal dormida
não deixam ouvir
nem sentir
alguém no outro lado


Tento outro rumo
outro "sítio", outro endereço
convoco a minha Fada
tento o inglês, o francês,
espanhol, o esperanto
a língua gestual
sinais de fumo
e, no entanto,
espanto:
- NADA !

26 de setembro de 2010

CONFISSÃO

- Então, pá, que é que se passou ontem na tua rua?
- O habitual.
- O habitual, o habitual... mas ontem houve mortos.
- Pois.
- Conta lá, pá. Tu até lá foste espreitar. Tu és do que gostam de andar a ver mortos.
- Pois. Eu até fui lá ver, mas a Polícia não deixava ninguém chegar-se.
- Foi à noite?
- Foi à hora de jantar.
- Conta lá, homem.
- Parece que a mulher do Farroncas apanhou o gajo distraído, de costas. Estava a comer a sopa na cozinha, a olhar apara a televisão. Abriu-lhe a caixa dos pirolitos com o cabo da vassoura.
- Mataram-se um ao outro?
- Nã senhor. o gajo fugiu todo a deitar sangue, mesmos á frente dos vizinhos, que acudiram aos gritos.
- E tu foste logo ver a morta. Não foi, Carolino?
- Eu nã estava em casa. Andava na venda. Quando cheguei já lá estava a Polícia, com a rua toda cheia de fitas vermelhas. Nã deixavam ninguém chegar-se.
- Mas já apanharam o Farroncas. É o que dizem.
- Nã senhor. Ele é que já depois da meia-noite chegou à porta da Esquadra com a cabeça partida, o olho inchado e a roupa cheia de sangue. Vai o polícia disse-lhe. "Para apresentar queixa só amanhã de manhã." Vai o Farroncas respondeu-lhe: "Nã senhor, venho cá falar com vossemecês porque parece que matei a minha mulher". E sentou-se no chão a chorar.

21 de setembro de 2010

ODISSEIA NO (TEMPO E NO) ESPAÇO

Dia cinzento, a anunciar aguaceiros. Calor húmido. Talvez trovoada a chegar.
Uma esplanada vazia. O empregado olhava o céu e transpirava tédio.
Entrou um cliente, aparentando cerca de sessenta anos. Vagueou, indeciso, por entre as mesas. Sentou-se.
O empregado aproximou-se: - Faz o obséquio.
- Uma bica e um brande. Faz favor.
O empregado voltou com o pedido numa bandeja. Então o cliente, com a voz empastada pelo álcool:
- Você está com sorte. Tem trabalho. Eu já estou cá fora. Lá me consegui safar. Você vai ver. Da maneira como isto está, vai ser uma monda. Lá no meu trabalho vai tudo para o olho da rua. Tudo pr'ó desemprego. Não vai demorar muito tempo para terem que por arame farpado na fronteira. ELECTRIFICADO!!
E o empregado, aproveitando a pausa no discurso:
- São dois euros, faz o obséquio.

18 de setembro de 2010

ILUMINADO

Ontem, Irmão,
quase atingi a Revelação
mas vi um louco discursando
na rua, em pijama
então
tive medo do SOL.

16 de setembro de 2010

O ESTADO (ANTI)-SOCIAL

Uma dada realidade social contem um conjunto de direitos e deveres dos seus cidadãos, instituidos ou estratificados ao longo dos tempos em cada nação/estado, que constarão, fundamentalmente, numa lei base, que se designa por contituição. (Em muitas cabeças existe o sonho de ser outorgada ao povo uma Carta Constitucional, como fez o Senhor Don Miguel),
Assim, também, o denominado "estado social" pode emanar dessa lei base e, assim, se manterá em vigor, a não ser que sejam revogadas ou alteradas as normas que o criaram e regulam.
Os abusos (sempre possíveis de existir) na utilização das benesses do estado social é que há que combater e perseguir. Mas não deverão ser esses abusos que deverão justificar a extinção da estrutura já existente.
Convem ter presente que o "estado social" veio introduzir na organização política e administrativa de um estado um sentido de justiça (social) e dar uma dignidade ao ser humano (cidadão) que, nos séculos passados não existia. A segurança no presente e/ou no futuro (incerto, de quem não tivesse bens e proventos pessoais ou familiares) era assegurada pela ajuda dos filhos (se existissem ou se pudessem). Para além disso, seria pela caridade, que, na maior parte dos casos, não era mais que uma esmola degradante e destruidora da dignidade humana.
Querem regressar a esse sistema?
Se a resposta é afirmativa (embora oculta por razões "inteligentemente" apresentadas para serem digeridas pelo grande público), então coloquem À PORTA DA REPÚBLICA o seguinte AVISO:

          TRABALHA ENQUANTO PUDERES (SE TIVERES TRABALHO) PARA SOBREVIVERES
          
          DEPOIS MORRE DEPRESSA E

          VAI MORRER LONGE

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Nota: Autor sem filiação partidária
  

14 de setembro de 2010

LE (PETIT ?) DÉJEUNER SUR L'HERBE

À noite, depois do jantar, o homem saiu de casa levando pela trela o pretexto para passear um pouco na rua. Era o Joli.
O cão cheirou nos troncos das árvores as urinas dos cães que o precederam. Deu três quartos de volta sobre a direita à volta de um tronco, depois outros três quartos de volta sobre o lado esquerdo. Encostou a ilharga ao mesmo, alçou a pata posterior direita e despejou três ou quatro esguichos. O dono olhou, satisfeito - em casa já não fará durante essa noite.
Andou, desandou, cirandou, cheirou arbustos  passou para a rua, voltou ao jardim, sacudiu as patas traseiras na relva.
Mais adiante cheirou outro tronco de árvore, hesitou quanto a abordá-lo sobre a esquerda ou pela direita, decidiu-se pela direita, alçou a pata. mas não conseguiu mais que esguicho e meio.
Voltou à ciranda, obrigando o dono a mudar a trela de mão e a tornear árvores. Chegou-se outro cão. Cumprimentaram-se cheirando, simultâneamente, a zona de entre-patas traseiras. Os donos disseram "Boa
noite" e seguiu cada um o azimute traçado pelo respectivo cão.
O passeio continuava, avançando, recuando, para a rua, voltando à relva e, novamente, para a rua. O canídeo acelerou o andamento a caminho da relva, esparramou-se sobre as patas traseiras e saiu-lhe do cu uma barra de "chocolate" redonda. Avançou um pouco, na mesma postura e sairam mais duas ou três e, a seguir, mais uma. O dono olhava, embevecido e pensou: - Mais um pouquinho e voltamos para casa.
E, assim foi.
As barras  de "chocolate" ficaram, mais ou menos alinhadas, na relva.

As crianças, na manhã seguinte, irão tropeçar nelas, pisá-las, cair sobre elas, fazendo-as confundir-se com com o jardim, que alimentarão.       

12 de setembro de 2010

MAUS ENCONTROS

Tem dias em que uma pessoa não pode sair de casa.
Logo à porta tropeçou numa pedra da calçada, ali deixada solta e ficou aos saltos, ao pé coxinho, agarrado ao pé, que andava a curar uma unha encravada.
Ainda a coxear, ia pelo passeio, cosido com a parede e tropeçou naquele vizinho, um unhas-de-fome, que não sente as dificuldades alheias e, mal vê um pobre-de-pedir, que lhe dá os bons-dias, fica casmurro, não responde e deita logo as unhas de fora.
Regressou a casa mal disposto, sem tomar o café na pastelaria. Pôs-se a fazer contas à vida, na ponta da unha, que tempo é dinheiro. Não foi difícil chegar à conclusão que tinha que cortar as unhas rentes. Aí verificou o sabugo. Com a pele, pareciam unha com carne e, pelo sim, pelo não, meteu os dedos dentro de àgua oxigenada. Evitou um panarício por uma unha negra.   L I V R A !!! 

9 de setembro de 2010

COMUNICA@ÇÃO.com

COMUNICA@ÇÃO.com


Eu comunico
tu comunicas
ele comunica
nós comunicamos
todos comunicamos
com a máquina
através da máquina
em tempo (quase) real
de forma rápida
e muito prática.

Assim convivemos
nestes tempos
de solidão informática.