- Então, pá, que é que se passou ontem na tua rua?
- O habitual.
- O habitual, o habitual... mas ontem houve mortos.
- Pois.
- Conta lá, pá. Tu até lá foste espreitar. Tu és do que gostam de andar a ver mortos.
- Pois. Eu até fui lá ver, mas a Polícia não deixava ninguém chegar-se.
- Foi à noite?
- Foi à hora de jantar.
- Conta lá, homem.
- Parece que a mulher do Farroncas apanhou o gajo distraído, de costas. Estava a comer a sopa na cozinha, a olhar apara a televisão. Abriu-lhe a caixa dos pirolitos com o cabo da vassoura.
- Mataram-se um ao outro?
- Nã senhor. o gajo fugiu todo a deitar sangue, mesmos á frente dos vizinhos, que acudiram aos gritos.
- E tu foste logo ver a morta. Não foi, Carolino?
- Eu nã estava em casa. Andava na venda. Quando cheguei já lá estava a Polícia, com a rua toda cheia de fitas vermelhas. Nã deixavam ninguém chegar-se.
- Mas já apanharam o Farroncas. É o que dizem.
- Nã senhor. Ele é que já depois da meia-noite chegou à porta da Esquadra com a cabeça partida, o olho inchado e a roupa cheia de sangue. Vai o polícia disse-lhe. "Para apresentar queixa só amanhã de manhã." Vai o Farroncas respondeu-lhe: "Nã senhor, venho cá falar com vossemecês porque parece que matei a minha mulher". E sentou-se no chão a chorar.
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