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13 de fevereiro de 2011

O PORCO QUE SOFRIA DE ANOREXIA

Era uma vez um porquinho que, quando os seus gémeos, sôfregos, corriam para as têtas da mãe porca, fazendo a algazarra habitual, cada um procurando a sua mamadeira, ficava mudo e quedo lá atrás, olhando. A sua sorte é que havia mais têtas que leitões. Aproximava-se lentamente, tentando, também, aconchegar-se. Mamava quase só para imitar os manos do que para saciar a fome que não sentia, em contradição com a Grande Fome de todos os porcos.
Continuava magro e pequenino.

Depois da desmama, foram todos colocados num chiqueiro, onde a mulher vinha, todos os dias, despejar variadíssimas coisas variadíssimas vezes. Então, como eram já crescidos, grunhiam, grunhiam, resfolegavam, trepando em cima uns dos outros, tentando alcançar a maior quantidade de restos de comida, vegetais, cascas - tudo!
Mas, o porquinho que sofria de anorexia ficava encostado à parede do lado oposto olhando o chão e, por vezes, o rosto da mulher, que o olhava interrogativa e preocupada, por cima do muro. Mais tarde comia um pouco dos restos espesinhados, deixados no chão, enquanto os manos, de focinho levantado, grunhiam, pedindo mais e mais.

As semanas foram passando e o porquinho continuava porquinho, magrinho, pequenino, apesar de ter crescido um pouquinho.
Um dia chegou-se a mulher ao alto do muro, acompanhada de outra mulher. Por entre os grunhidos dos manos, já grandes e anafados, que exigiam mais comida, uma mulher disse à outra:
- Não vê? Parece que está cheio de fastio. Não sei que lhe faça. Não vou matá-lo. A gente mata um porco para... vossemecê sabe. Não vou matá-lo e enterrá-lo, que me dói a alma. Vou largá-lo na serra e que morra por lá.
- Pois. Sabe-se lá se é alguma maleita e a pega aos outros... - disse a outra.
A mulher assim o fez no dia seguinte.

O porquinho que sofria de anorexia, depois de ter sido solto no campo, andou um pouco e, depois, deitou-se à sombra de uma árvore. Chegou-se um casal de porcos-de-mato, cheiraram-no, cheiraram-no e... foi adoptado. Ensinaram-no a comer raízes tenras, rebentos, folhas de arbustos e a beber a água fresca dos ribeiros.
E, assim, viveu muitos anos. Sem fastio.

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