Quando o vi, o pequeno escaravelho caminhava escostado à parede do lavatório. Parou, colocou as patas da frente na parede, subiu um pouco, assentou as restantes patas e começou uma subida lenta e sofrida.
Subiu, talvez, um palmo e caiu. Ficou assente no chão com a pequena carapaça, de patas no ar, que se movimentavam desesperadamente, procurando um apoio para se recolocar na posição correcta. (Será descendente do Gegor Samsa? - pensei).
A custo, passado bastante tempo e sem se perceber como, surge, num repente, em posição de caminhar. Imediatamente atacou, de novo, a subida da parede do lavatório. Cuidadosamente colocou nela a totalidade das patas e recomeçou a subida. Caiu pouco depois.
Uma outra vez e em movimento mais rápido, nova tentativa de subida. Fiquei a ver. Estava a dois dedos de chegar à horizontal (à cobertura do lavatório) e... novo trambolhão. E novo desespero. Colocado em cima da carapaça, "esbracejava" desesperadamente no vazio. Novamente se endireitou. E nova subida.
Deixei-o nesse novo esforço e saí.
Quando voltei à casa-de-banho, continuava a trepar a mesma parede, agora lentamente, muito lentamente.
Que desígnio, chamamento, necessidade fará com que o insecto teime naquele caminho difícil, quando há tanto espaço para descobrir, caminho fácil e horizontal onde, talvez, encontre alimento? (- Se é isso que ele deseja). Será que ele sente a presença de água lá em cima? Terá sêde? - Vou colocá-lo lá em cima - pensei. Decidi que não. E voltei a sair.
Umas horas depois voltei à casa-de-banho e lembrei-me do bicho. Olhei a parede do lavatório - nada. Em cima também não o vi. Olhei em volta - nada. Afastei a saboneteira. Estava ali parado, de patas recolhidas. Descansava?
Vá lá a gente entender os alpinistas...
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