Foi quando a urna começou a descer ao fundo da sepultura, sustentada por duas cordas grossas, fortes e sujas, que lhe rompeu do peito um choro convulso, em estremeções que lhe faziam abanar o corpo todo. Por mais que tentasse abafar o choro com um lenço, não conseguia.
Tentou afastar-se apressadamente, enterrou os sapatos na terra removida e caiu, ficando sentado no mármore de uma campa próxima. Levantou-se, trôpego.
O choro continuava em arrancos violentos, as lágrimas caíam descontroladamente e começava a escorrer-lhe uma baba espessa de um canto da boca.
Sentia-se envergonhado pela cena que estava fazendo, mas não consegia controlar-se. Tentaram ajudá-lo, consolá-lo da morte do amigo. Havia quem estranhasse tanto sentimento, pois a ligação ao falecido não era tão próxima que justificasse tanto sentimento. Afastou, até, com agressividade os que tentaram ajudá-lo.
Tirou mais um lenço dos bolsos, limpou mais uma vez os olhos e nariz.
Sustido o choro, parecia-lhe ter acordado de um pesadelo. Olhou em volta e fixou os que o observavam. Apertou os botões do casaco, enquanto olhava a viúva, que se afastava, amparada por famaliares.
Encaminhou-se para a porta do cemitério, incomodado, envergonhado, um tanto confuso.
Com dificuldade, conseguiu entrar no carro. Ficou imóvel, a olhar em frente, no vazio, por algum tempo. Dos conhecidos, que iam passando, ninguém o incomodou.
Pôs o carro em marcha depois de ter tomado consciência que não tinha chorado pelo falecido. Tinha, afinal, chorado por si próprio. Perecível e transitório.
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