O empregado colocou na mesa a travessa fumegante com ovas cozidas em faustosa abundância, batatas, feijão verde e ovo.
O homem interrompeu o diálogo com a senhora ao seu lado direito, puxou a cadeira para mais próximo da mesa, colocou a ponta do guardanapo entalada entre o colarinho da camisa e o pescoço, agarrou nos talheres, olhou em redor e vociferou para cima da mesa, procurando ser ouvido por todos os presentes na sala:
- Ora vamos lá a acompanhar o camarada Adolfo, praticando mais este genocídio…
Ouviram-se gargalhadas em redor.
O homem em contraponto agarrou o copo cheio de vinho tinto para o atirar ao nariz do declarante, mas, em vez disso, partiu o copo entre os dedos e a palma da mão, sujando a toalha e fazendo saltar um ah! às senhoras sentadas na mesa.
O declarante de genocídio olhou-o, inquiridor, tentando perfurar-lhe as profundezas do cérebro. O outro olhava-o, também fixamente, enquanto sangue e vinho se misturavam na tolha da mesa. Levantou-se com um guardanapo enrolado à volta da mão. Caminhou para a saída e, já no hall, ficou oscilando entre tomar o caminho da casa de banho ou da porta da rua. Alguma coisa o fez voltar-se e viu atrás de si o devorador de ovas, parado, olhando-o com ar ameaçador. Voltou-lhe as costas. Ficou parado, cabeça erguida, fez o corpo rígido e soltou um sonoro traque. (Imediatamente pensou: - Foi personalizado, mas não foi o melhor argumento).
Encaminhou-se para a porta da rua e saiu.
Sem comentários:
Enviar um comentário