Não há muitos anos, os gestores eram fotografados à sua secretária (a mesa, não a senhora), com a caneta na mão, tendo a ponta (da caneta) apoiada sobre uma folha de papel, encarando, com ar sério a objectiva. Parecia haver a preocupação de transmitir a ideia de que sabiam escrever.
Afastavam-se, assim, as dúvidas em todos os espíritos, principalmente dos accionistas mais cépticos. Ou porque haveria, ainda, quem se recordasse do antigo Regimento de Disciplina Militar, que determinava que os sargentos deviam saber ler e escrever porque os senhores oficiais poderiam não saber.
Agora, passados alguns (bastantes) anos, a postura é outra. Os gestores são fotografados de pé, com os braços cruzados no peito, encarando a objectiva de lado. Há algumas variações no semblante - uns sorriem com aspecto simpático, outros riem abertamente, outros, ainda, estão de sobrolho carregado. Há, também, quem, mantendo os braços cruzados, levante o peito, com ar altaneiro, agressivo, desafiando (talvez) a concorrência.
Esta nova atitude, em pé e de braços cruzados, dá-nos uma imagem mais real do que deve ser um gestor de empresa, de empresas ou de empresas em grupo.
O ramo de actividade poderá, também, influenciar a atitude... Assim, os que riem, serão, talvez, gestores de empresas de entretenimento, organização de eventos ou actividades afins; ou estarão satisfeitíssimos com a sua realização pessoal. Os de sobrolho carregado poderão ser gestores de empresas de segurança ou de uma qualquer empresa que tenha tido maus resultados; ou, talvez, estejam tentando transmitir para os senhores accionistas uma imagem de competência e responsabilidade.
Claro que poderemos, também, imaginar que todas aquelas fisionomias têm apenas e só a ver com o tipo comportamental do fotografado ou do seu estado de espírito naquele momento; ou que serão directamente proporcionais ao grau de importância que se atribuem a si mesmos.
Certo é que ser fotografado em pé transmite uma imagem de maior dinamismo, acção, do que ser fotografado sentado e armado de uma simples caneta (mesmo que seja de ouro). A não ser que imaginemos que, cada penada no papel, é mais um acto executivo.
De notar, também, que a postura erecta e de braços cruzados, esteja sorridente ou carrancudo, tem um pormenor que lhes é comum - a manga do casaco e o punho da camisa estão suficientemente subidos para permitir que se veja o relógio de boa marca, afivelado a um dos punhos.
É claro que é necessário mediatizar as empresas e... os seus gestores executivos. É desejável que sejam publicitados para que seja notória a actividade e a existência da empresa. Publicitar só a empresa, os seus produtos ou serviços, é coisa do antigamente. Os gestores querem-se no mercado, no espaço público, na comunicação social, nas bocas-do-mundo.
Em futuro próximo veremos os gestores da nossa praça e de outras praças vizinhas e afins, desfilarem pelas nossas ruas e avenidas, em passo enérgico e firme, olhando bem ao alto e em frente, como em marcha militar, uniformizados com fatos de bom corte e gravatas de seda de cores garridas, que sejam visíveis, pelo menos, a um quilómetro de distância.
À frente seguirão os "Chief Executive Officers" (que é a denominação que, em Portugal, é dada aos administradores-delegados e afins), em mangas de camisa, com elas arregaçadas até meio do braço (como convém a homens de acção), transmitindo um aspecto dinâmico, decidido e executivo. Atrás irão os outros gestores (mais ou menos executivos), todos marchando de cabeça erguida e todos gritando bem alto, a plenos pulmões:
- Nós somos bons, nós somos bons, NÓS SOMOS MUITA BONS!!!!
Tamanha grandiosidade imaginará (sempre!) os aplausos vindos das janelas e das varandas, ao longo das ruas e avenidas, que, para eles, serão como pétalas de flores lançadas sobre esses cérebros passantes, que, indiferentes, as irão pisando, pisando, pisando...
Sem comentários:
Enviar um comentário